sexta-feira, 2 de julho de 2010

A "Buenos Aires"

Face ao aumento da sua população escolar, o ISEG --- então ISCEF-Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras --- começou a estar "apertado" dentro do "convento". Foi assim que, no início dos anos 70 e aproveitando o facto de o Instituto Industrial de Lisboa ter abandonado as suas (quase decrépitas...) instalações na Rua de Buenos Aires para se instalar no seu actual edifício na Avª Marechal Gomes da Costa, o Instituto conseguiu tomar posse do que passou a chamar-se o "Anexo" ou "a Buenos Aires".

Fonte: aqui

O edifício, o antigo palácio dos Viscondes dos Olivais reedificado em 1860, tinha muitas salas mas a maior parte com muito poucas condições de utilização e só algumas obras "para remediar" o tornaram minimamente "habitável". Desde 1916 que abrigava o Instituto Industrial, qua ali se manteve até cerca de 1970.
Algumas dessas salas tinham algum interesse, nomeadamente a "Sala dos Espelhos", que deverá ter sido o salão principal da casa.
A "Buenos Aires" ficou também conhecida pelas "voltas e voltinhas" que se tinham de fazer dentro do edifício para alcançar as salas de aula dos pisos mais altos, o que exigia subir vários lanços de escadas estreitas.
Mas havia duas outras características emblemáticas das instalações: os "combóios" e... as "couves"!
Os primeiros eram umas salas pré-fabricadas, as maiores das instalações, onde, no inverno se gelava devido ao frio. As segundas eram, afinal, uma parte do vasto quintal onde um funcionário residente tinha uma abundante plantação das ditas cujas, quase todas do tipo "couve galega" ou "portuguesa", com o seu caraterístico tronco alto.

Foi aproveitando parte das "couves" e do parque de estacionamento que o ISEG, já nos anos 90, construíu, de raiz, um edifício com várias salas de aulas.
Este acabou por ser usado relativamente poucos anos pois entretanto houve a decisão de trocar as instalações da "Buenos Aires" com a Direcção Geral de Saúde. Esta ocupava então os terrenos onde estão agora instalados os novos edifícios do ISEG com construções vocacionadas principalmente para a aplicação de vacinas de vários tipos, particularmente as mais comuns em países tropicais e que eram obrigatórias para quem se deslocava para as ex-colónias portuguesas (vacina contra a febre amarela, etc).

Depois de alguns anos sem re-visitar a "Buenos Aires" passei por lá há dias para fotografar o edifício a fim de ilustrar este blogue. Qual não foi o meu espanto quando dei com um edifício "entaipado", parcialmente "destruído" e com um enorme letreiro onde se lê "Buenos Aires Palace"!



A "Buenos Aires" tinha sido apanhada pela especulação imobiliária e agora vai "virar" um condomínio de habitação de luxo. Os construtores vão preservar apenas alguns "panos" da fachada e incorporá-los na do edifício em construção. O "miolo" do palácio desapareceu todo já que era impossível aproveitá-lo.




Post scriptum:
O Gouveia Pinto teve a amabilidade de me enviar uma nota com uma precisão importante: o "combóio" era uma sala paralela ao edifício principal que se situava no fim de um "corredor" ladeado por duas outras construções com salas --- era também a estas que eu me referia ao usar o plural "combóios".
Citando-o parcialmente:
"Na Buenos Aires não havia comboios mas sim um comboio. Era um pré-fabricado que comprido (daí o nome) que se situava ao fundo do “jardim” (ou quintal?) paralelo ao edifício principal. Era muito velho com telhado de zinco e paredes de contraplacado. No verão comparava-se (com vantagem considerando os objectivos da PIDE) com a frigideira do Tarrafal e no Inverno fazia tanto frio que dois aquecedores não eram suficientes para aquecer o pessoal, mesmo com os casacos vestidos. "

Obrigado, Gouveia Pinto. E já agora: venham de lá as vossas memórias para ir animando isto... :-) Quem tem fotos dos "amigáveis", por exemplo?

3 comentários:

  1. Virgílio de Brito Murta10 de junho de 2013 às 19:44

    Parece-me que se descia por uma escada do pátio de entrada para o jardim.Ao fundo dessa escada, à esquerda, havia uma sala comprida onde o "Santo António" ( Engº Vilas Boas ? ) dava aulas práticas de Física. Havia umas mesas compridas e uns bancos a condizer. Um dia, o " Tesourinha " ( Neves, se não estou em êrro),manteve-se de pé, até que o "Santo António" se virou do quadro preto e disse-lhe, com a sua típica maneira de falar " sente-se o senhor". Como este não se sentasse, apontando para o banco, o St. Antº foi até lá e olhado para o baixo, disse " sente-se o sr.sente-se que isso não aleija". Estava desenhado a giz, um grande pénis! O Prof. da cadeira, Dr. Dagoberto Guedes, o " Penico" também tinha muito boas.Bons tempos (~1946-48 )V.B.Murta

    ResponderEliminar
  2. Vou contar uma do Dr. Dagoberto Guedes, o " Penico " professor de Física I e II do IIL.

    A sala era muito boa, com várias portas para o jardim, que a malta usava para se safar.

    Nas duas filas da frente ficavam as alunas de Química.
    O Prof. era uma pessoa muito culta e a propósito de qualquer coisa fazia um romance. Uma vez, explicando o transporte de energia eléctrica, falou do cobre e também do alumínio, que també servia para o efeito e para fazer muitas outras coisa, tais como, etc,etc..
    Cá de trás um uluno gritou várias vezes
    : "E serve também para fazer penicos"
    O Prof, nas calmas, respondeu _ " E os cornos do seu pai são também feitos de alumínio" e voltando-se para as alunas : " As senhoras desculpem ".
    Um abraço,Murta

    ResponderEliminar
  3. Virgílio de Brito Murta13 de junho de 2013 às 19:10

    Vou contar só mais uma do Dr.Dagoberto Guedes.

    Estava o Professor demonstrando um teorema no quadro quando um aluno lá de trás gritou _ PENICO.
    Daí a pouco voltou à carga : PENICO.
    O Prof. não se perturbou e lá acabou a demonstração E o aluno, mais uma vez _ PENICO !
    Então o Prof. voltou-se para os alunos e disse " Sei que me chamam Penico, mas não me acertam, mas eu chamo FILHO DA PUTA a todos e tenho a certeza que acerto pelo menos num"
    E voltando-se para as alunas _ " As senhoras desculpem..."
    Um abraço,
    V.B.Murta

    ResponderEliminar